Saturday, July 29, 2006

Hoje passeei-me de vestido branco, roda enorme, menina outra vez.

Eva Armisén





Thursday, July 27, 2006

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!)
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
....
trecho de Tabacaria – Álvaro de Campos




Monday, July 24, 2006

Tempo Livre

O tempo que dizemos "livre" deveria ser um tempo não mensurável, uma libertação da contagem do tempo, ou a sua suspensão.
Mas pode ser apenas o negativo do tempo de trabalho, simplesmente consumido, como revelam as fotografias de Massimo Vitali.
Ainda assim, troco o trabalho por um dia de praia (com sentimentos de culpa, é claro!).

Sunday, July 23, 2006

LANDSCAPE WITH FIGURES




photographs by
Massimo Vitali







Saturday, July 22, 2006

SUSPICION

“But if you are certain, isn’t it that you are shutting your eyes in the face of doubt?’—They are shut.”

Ludwig Wittgenstein, Philosophical Investigation

















Suspicion (1941)
Directed by Alfred Hitchcock

Monday, July 17, 2006

LEMBRAS-TE?

As minhas primeiras recordações são quase falsas, instantes que invento numa urgência de memória. O portão enorme, as palmeiras, o caminho empedrado que nos conduz à casa desbotada de vermelho, o alpendre numa confusão de cestos, vasos e gaiolas. Acordo, ouve-se o verão lá fora, cantos de cigarras, ervas estalando, os passos arrastados da avó Ilda no patamar marcam a hora da sesta.
Através das janelas fechadas insinuam-se grãos de poeira, terra e ar reconciliados em nuvens de luz. O corredor, interminável, abre-se em salas e quartos onde se escondem criaturas misteriosas. Mas isso é mais tarde, que as primeiras memórias são lugares desabitados, só sons, cheiros e vultos.

Friday, July 14, 2006

Desaprendizagem




Wednesday, July 12, 2006



Dois anos depois, as mesmas frases sublinhadas



,faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos húmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e a luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranquilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro




Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama "eu existo", a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.


Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres